Universidades dão aulas on-line e frustram alunos
Uma nova "moda" está surgindo no ensino superior: é a aula on-line. Mas, apesar da modernidade do nome, a promessa de revolução do currículo tem frustrado os alunos. É que nessa nova modalidade, até 20% das aulas com professor desaparecem. O aluno fica só com os textos via web e tem um fórum para tirar dúvidas.
“Quando a gente entrou na faculdade, não tinham falado que teria esse tipo de aula. A maior parte da sala é contra e a gente não tem escolha”, diz a estudante de jornalismo da Anhembi Morumbi, Bárbara Luiza Pacheco, de 19 anos. No quarto semestre do curso, suas aulas on-line são de psicologia e empreendedorismo e, todas as sextas-feiras, ela não vai à faculdade, porque a aula deve ser feita no computador.
Não há vídeos e há pouca interatividade no conteúdo. Basicamente, no curso de jornalismo, as aulas on-line são apenas textos seguidos de perguntas, que valem como presença para o dia. “Não tem nenhum vídeo ou outro recurso. Para isso, a gente podia ler um livro e não precisava pagar faculdade”, diz.
No primeiro ano, Bárbara conseguiu trocar as aulas on-line por um curso presencial junto com a turma de publicidade. “Foi melhor do que no computador, mas o curso era mais voltado para publicidade do que para jornalismo”, afirma ela, que paga R$ 880 de mensalidade.
As aulas pela internet já foram alvo de protesto na Universidade Ibirapuera.
No dia 21 de agosto, um grupo de estudantes interditou por cerca de 30 minutos a Avenida Interlagos. Os manifestantes reclamavam da ausência de professores em várias disciplinas.
Na Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul) as aulas on-line recebem o nome de “Blackboard” e também são criticadas por alunos. “Acho que só agrada quem não quer ficar na faculdade, que quer sair antes”, afirma Renata Cristina Frangella Barboza, 19, aluna do segundo semestre de ciências biológicas.
“A gente poderia ter aulas práticas em vez de aula no computador, que são muito mais importantes no curso”, sugere. A mensalidade de seu curso é de R$ 663, mas a aluna tem desconto de 40% sobre esse valor. Segundo Renata, a escola não ofereceu a opção de fazer aulas presenciais no lugar das que são via web.
De acordo com o Ministério da Educação (MEC), a faculdade ter aulas on-line não é irregular. Uma portaria afirma que até 20% das aulas podem ser ministradas assim, mesmo nos cursos chamados presenciais. Veja a portaria do MEC de 2004, que fala das aulas.
Mas, para o presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), Frederic Litto, o que vem acontecendo não é exatamente uma revolução no currículo. “Isso é incompetência institucional. Educação a distância não serve para o aluno que não está altamente motivado, que não tem disciplina para ser aprendiz autônomo”, diz.
De acordo com Litto, para funcionar, aulas a distância precisam ter muita interatividade entre os alunos. Assim, o aprendizado vem por meio da discussão. Se o aluno prefere estudar com professor, é mais difícil aprender pela internet.
A Anhembi Morumbi informou por nota que investe em ensino a distância desde a década de 80 e que “acredita em inovação tecnológica como aliada na formação profissional”. “A metodologia de ensino adotada pela Universidade, que abrange a concepção de programas e o desenvolvimento contínuo de disciplinas, garante resultados de ensino e aprendizagem extremamente positivos”, diz o documento enviado pela assessoria de imprensa.
A Unicsul afirmou por nota que seu sistema “Blackboard” é “é uma ferramenta tecnológica inovadora, utilizada nas melhores universidades do mundo, por meio da qual o aluno desenvolve atividades on-line complementares àquelas das salas de aula e laboratórios”.
A Universidade Ibirapuera afirma em seu site que a educação via internet facilita o estudante, que pode estudar em casa, na rua, no trabalho. E afirma que o aluno tem a orientação de tutores. Diz ainda que o método ajuda o aluno a “estar preparado para o Ciberespaço no mercado de trabalho, onde no mundo corporativo o e-learning é uma das ferramentas mais utilizadas atualmente para capacitação”.
fonte: site G1 - http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL97005-5604,00.html